segunda-feira, 16 de agosto de 2010

P O L Í T I C A – Esclarecimentos e Orientações (2)

POLÍTICA E IGREJA
Há muita confusão com respeito à relação entre Política e Igreja. Tal fato decorre da incompreensão da missão universal da Igreja e das variadas funções que cabem aos diferentes membros da Igreja.
 A -.Missão universal da Igreja e a Política.
A Igreja tem por missão iluminar com a luz da fé todos os caminhos da humanidade e fermentar todos os ambientes pelo Evangelho, de tal modo que o Reino de Deus vá sendo construído na história da humanidade. Por isso mesmo, não lhe é lícito desconhecer setor algum da atividade humana, muito menos a política da qual dependem fundamentalmente as leis que regem o relacionamento dentro da comunidade.
Por isso, no documento da CNBB, Exigências Éticas de uma Ordem Democrática, os bispos advertem que “faz parte da missão pastoral da Igreja anunciar e defender as exigências éticas, para que elas iluminem a convivência social.”( N.4)
Em outro documento assim se expressa a CNBB: “A Igreja não pode aceitar a acusação de intromissão indébita ou de subversão quando, no exercício da missão evangelizadora, denuncia o pecado e questiona aspectos éticos de um sistema ou modelo.”(Exigências Cristãs de uma Ordem Política, n.12)
B. Funções diversas
No entanto, é preciso ter em consideração que na Igreja há “unidade de missão, mas diversidade de funções.” (Doc.do Vat.II sobre o Apost.dos Leigos N.2). Todos, pois, são obrigados a iluminar e fermentar a sociedade e, portanto, também a atividade política. Mas nem todos, da mesma forma,pois as funções são diferentes.
1) Função do leigo cristão
a) Os leigos cristãos, pela sua própria vida e atividade estão no mundo como fermento do Evangelho.Aliás, só por intermédio deles pode a Igreja fermentar todos os ambientes da vida: familiar, social, econômica e política. Por isso,” os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política.”(João Paulo II: Exort.Apost. Christifideles Laici,N.42).
b) E quando falamos de participação política incluímos evidentemente todas as atividades da política, inclusive a política partidária. O leigo que se desinteressa pela política partidária não está realizando plenamente a sua missão. Embora nem todos devam ser candidatos a cargos eletivos, ninguém pode se eximir de influir, à luz do Evangelho, para que também nesse setor da vida pública possam agir como fermento evangélico que transforma.
c)Nem significa que devamos lutar por um partido “católico”. Pelo contrário, devemos respeitar a variedade das opções partidárias, desde que
inspiradas no Evangelho. Pois nunca haverá um partido que encarne perfeitamen-
te o ideal evangélico. A utopia de um “partido cristão”ou apoiado pela Igreja
como “seu partido” já trouxe muita decepção e fracasso. Temos que conviver
com a variedade de encarnações do ideal evangélico.
d) Os leigos que se sentirem capazes de uma participação mais direta, “não recusem cargos públicos, se puderem, por uma digna administração prover o bem comum e, ao mesmo tempo, abrir caminho para o Evangelho.”(Doc.sobre o Apost.dos Leigos n.14)
e) Tais cristãos não devem ser excluídos de cargos de liderança na comunidade eclesial, desde que não usem suas funções na Igreja para se promoverem
politicamente. Antes, devem ser incentivados e orientados para o cumprimento de sua difícil missão no mundo da política.
2 - Funções do padre (bispo)
Cabe aos membros da hierarquia (padres e bispos), com relação à política partidária, uma dupla missão:
a) formar os leigos para uma participação ativa na política partidária e dar-lhes o necessário apoio.
Isso é salientado como obrigação já no Concílio Vaticano II quando afirma:
“Com empenho se deve cuidar da educação civil e política, hoje muito necessária
tanto para o povo, como sobretudo, para a juventude afim de que todos os cidadãos possam desempenhar o seu papel na vida da comunidade política.”(GS 75).E os bispos em Santo Domingo assim se expressam”Nós,os pastores procuraremos fomentar a preparação de leigos que se sobressaiam no campo da educação, da política, dos meios de comunicação social...Estimularemos uma pastoral específica para cada um desses campos, de maneira que os que nelas estiverem presentes sintam todo o respeito de seus pastores.(S.Dom.99).
Aliás isso veio apenas reforçar o que já dissera Medellin: “A falta de uma consciência política em nossos países torna imprescindível a ação educadora da Igreja, com o objetivo de que os cristãos considerem sua participação na vida política da nação como um dever de consciência e como o exercício da caridade, em seu sentido mais nobre e eficaz para a vida da comunidade.”(Med.1,16)
b) manter a unidade, dentro da variedade de mentalidades e opções políticas.
No Documento sobre o Ministério e Vida dos Presbíteros se afirma que eles foram colocados no meio dos leigos “para levarem todos à unidade da caridade”e “é tarefa deles harmonizar de tal forma as diversas mentalidades, que ninguém se sinta estranho na comunidade dos fiéis (PO n.9).E Puebla insiste em que o Sacerdócio ministerial é “serviço de unidade da comunidade.”(P 661)
c) Daí a razão por que a Igreja não pode aprovar a participação dos padres na política partidária. O padre que se candidata a cargos político-partidários não está apenas desobedecendo a uma lei eclesiástica, mas ocasionando o fracasso de sua principal missão que é formar os fiéis leigos e manter a unidade. Sua adesão a um partido ocasionará a divisão dos fiéis entre os que são do seu partido e os que, legitimamente, optam por outros partidos.
d) O mesmo se diga do padre que se vale de seu cargo para orientar os fiéis para uma determinada opção partidária. O que aliás, além de um abuso de autoridade, é um desrespeito à liberdade dos fiéis.
Tomando o papel específico dos leigos, o padre está se tornando incapaz de exercer a sua função própria e só prejudica a si mesmo e à Igreja
e) Idêntica proibição vale para dirigentes ou participantes de pastorais da Igreja que não podem falar em nome da pastoral a favor de partidos ou candidatos, pois comprometem, de certa maneira, a hierarquia.
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Pe. Nelito

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